domingo, 14 de outubro de 2012

12 Homens, Uma Sentença e muitas versões


O clássico 12 homens e uma sentença. de Sidney Lumet, inspirou, de acordo com o www.imdb.com, cinco releituras para TV e outra para cinema http://www.imdb.com/title/tt0488478/trivia?tab=mc
Falarei sobre a versão original, o remake americano para TV produzido em 1997 e a versão russa 12, de 2007.

A premissa para as três versões é a mesma. Um jovem é acusado de assassinato e um júri de doze homens precisa chegar a uma decisão unânime, seja culpado ou inocente.
Desde o início onze dos doze jurados estão convictos da culpa do rapaz, e passam a atacar o único que se opõe, sendo que sua decisão de não culpar o jovem, ao menos não sem antes debaterem, leva a todos a ficarem isolados na sala pelo tempo que for necessário.
Percebe-se claramente que suas opiniões iniciais foram levadas pelo preconceito - latinos, no caso americano, e chechenos, na versão russa - e falta de opinião própria. Ao ouvirem as versões dos advogados de acusação e de defesa, foram passionais e não analisaram os principais fatos, como os relatos das testemunhas.
Conforme o filme transcorre, os jurados vão discutindo e mudando de opinião. O jurado número 8, papel de Henry Fonda na versão original, não alega que ele é inocente, mas quer ter certeza antes de tomar sua decisão. Com sua moral, afinal ele não quer mandar para a cadeia um suposto inocente, e seu poder de persuasão ele traz os jurados para seu lado.
Os filmes mantém o clima de dúvida até o final, com o veredito. Mesmo com a descrença acerca das testemunhas o jovem pode ser culpado, mas isso é pano para outras discussões.

VERSÂO ORIGINAL DE 1957
12 homens e uma sentença foi o primeiro longa metragem de Sidney Lumet, e virou um marco para os filmes de tribunal. Lumet viria a produzir mais 42 longas para o cinema, além de séries televisivas.
Ganha força pelo ineditismo da produção, mesmo sendo baseada em uma peça de teatro, e pelo elenco afiado. Henry Fonda demonstra força e carisma, sendo verossímil a mudança de lado dos outros jurados.
Sendo o preconceito racial muito forte nos EUA à época da produção, apesar de ainda existir, penso que o choque tenha sido grande para os jurados. Ele era latino, portanto, assassino.
Esta é a versão mais intimista, mais claustrofóbica, quase sentimos o calor do dia mais quente do ano em Nova Iorque. As expressões facias são fortes e cheias de ódio.

VERSÂO PARA TV AMERICANA DE 1997
Falar de remakes é sempre difícil, especialmente quando temos um carinho pela versão original. 12 homens e uma sentença é um filme que me marcou muito. Assistindo-o pela primeira vez alguns anos atrás percebi quão geniais filmes PB poderiam ser. Olha só, o filme acabando com mais um preconceito. E este remake apenas aumentou o apreço que tenho pela original.
William Friedkin, do cultuado O Exorcista e do excelente Operação França, revisita o clássico de Lumet, e somente isso. Não há nada de novo, além dos atores. A história é exatamente a mesma. A sala, a mesma. O mesmo dia mais quente do ano. A diferença substancial é que os atores não têm o mesmo carisma, o mesmo poder de persuasão. Não dá para acreditar que mudaram de opinião com aquelas atuações ou seja, não me convenceram. Friedkin parece apenas querer apresentar a história para o público jovem.

VERSÂO RUSSA de 2007
50 anos depois, com uma fotografia belíssima, tomadas de câmeras diferentes, novos cenários e a inserção de elementos inéditos, esta é minha versão favorita.
O diretor Nikita Mikhalkov havia assistido a peça e ficou com a história martelando por décadas, até sua produção em 2007. O filme concorreu ao oscar como Melhor Filme Estrangeiro, mas acabou perdendo para o também maravilhoso Os Falsários, da Austrália. Sobre isso, talvez os americanos não queriam premiar um remake de um clássico deles.
O jovem suposto assassino é um Checheno, portanto estrangeiro na Rússia, e acusado de assassinato em um bairro que cresce por conta da construção de novos prédios. Esta é das pequenas diferenças para o original. Outra é que esta se passa num ginásio escolar.
Temos diversas tomadas exteriores, inclusive apresentando o jovem acusado para nós; esse mesmo jovem em sua cela e um cachorro correndo na chuva, que aparece em alguns momentos do filme, aparentando não ter qualquer ligação com a história, será? No fim do texto há uma explicação do diretor para a presença dele.
Esta versão é sim uma homenagem, das mais grandiosas. O diretor faz sua própria versão, com elementos culturais muito fortes. talvez não tão fortes quanto para eles, impregnados na história recente de seu país. Ainda acerca da homenagem, em dado momento eles citam o código penal americano a fim de justificar a necessidade de unanimidade para condenação ou absolvição do jovem, já que por lá uma maioria seria suficiente.
Os atores estão excelentes, sendo convincentes em suas opiniões e contundentes quando precisam mudar. De quando em quando um dos jurados pega para falar de forma muito pessoal, enquanto os outros apenas ouvem atentamente, como se um desabafo. Esse é um dos pontos mais significativos para mim, e que torna o filme muito passional.
Mas a grande diferença ainda está por vir e envolve o veredito final, com uma solução passível de muito argumento, sobre isso, deixo para quem se interessar em ver este belíssimo trabalho.

Sobre o cachorro, somente fará sentido a quem assistir o filme:
"Acho que a principal mensagem do filme é que se não ouvirmos uns aos outros, não só ouvirmos mas realmente prestarmos atenção uns aos outros, não há dinheiro, ou diamante que irá nos salvar do cachorro retirando partes do nosso corpo. Precisamos aprender a ouvir uns aos outros"

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